29 January 2017

Fracasso

Conforme havia falado no último post, escreverei cartas, e a primeira será para mim mesma. 



"Querida M, como vai?

Eu não vou bem, sinceramente não vou bem. Estou em grandes dificuldades, e elas começam com o fato de não saber lidar com as coisas, ou com muitas coisas ao mesmo tempo. Tenho vários medos, e não sei como admiti-los, e muito menos como os resolver, e isso me torna uma pessoa detestável, pois eu me detesto nesse momento. Tenho algumas questões do meu futuro profissional para resolver, e me dá agonia não conseguir achar uma solução imediata. Além disso, que me tira o sono, tenho passado por uns problemas familiares, tenho me estranhado muito com minha mãe, muito! Temos brigados, por nada, ela muitas vezes é muito dura comigo nas palavras - confesso que também sou dura. Aliás, sou uma pessoa mais fria, bem fria, ou pelo menos eu gostaria de ser. Hoje tive uma discussão horrível com minha mãe, ela me disse coisas que muito me magoaram, sinto como se não conseguisse pertencer a algo, ou a algum local. Sinto-me constantemente perdida, principalmente em meio familiar, muitas vezes tenho a melhor família do mundo! Com a melhor mãe de todas, mas em outros momentos tenho vontade de apenas pegar minhas coisas e sumir. E nesse exato momento estou assim, estou perdida, completamente perdida! E nessas brigas ouço sempre coisas que ninguém deveria. 
Minha mente, por si só faz muito barulho, ela constantemente me acusa de tudo, de absolutamente tudo, de não ser perfeita, de não ser magra, de não conseguir lidar com os problemas, de sempre afastar as pessoas ao meu redor, de ser fechada, de não conseguir separar meus problemas familiares e descontar em quem está ao meu lado e realmente fez de tudo para me ver bem. Minha mente constantemente me acusa, não me deixa dormir, me faz ter pesadelos, e me faz perder quem realmente vale a pena ter ao lado, minha mente não me da sossego, sempre quer tudo pra já, pois se não for pra já é pelo simples fato de que eu não sou boa o suficiente para não conseguir as coisas rápido, me torno um fracasso. Aliás, sou um fracasso, por ter 25 anos e não estar formada, não ter um emprego super legal e de status, sou um fracasso pois minha mãe vem me saturando de brigas e eu descontei no meu namorado - aliás, com quem eu terminei pois não posso terminar com a família e ele era quem de fato me dava carinho. Sou um fracasso pois não consigo confiar em meu namorado, não consigo ser boa o suficiente para ele, não consigo fazer com que ele goste de mim assim como eu gosto dele, sou um fracasso pois com outras ele tinha fotos e mais fotos no facebook - aliás, creio que ele ainda as tem no computador - e comigo nada tem, sou um fracasso por ter que implorar para ele ter algo comigo no maldito do facebook e ele não ter, sou um fracasso por me apegar a isso, por achar que a ex é mais importante para ele do que jamais poderei ser. Sou um fracasso por não ter confiança completa em mim, por sempre achar que as outras serão melhores, sou uma idiota por não falar isso para meu namorado, e sou mais idiota ainda por esperar uma atitude dele, por achar que se eu falar como de fato me sinto em relação a tudo que vem acontecendo e de que forma ele poderia me ajudar e achar que ele faria isso, sou uma idiota pois eu faria isso por ele, e por meus amigos mais próximos, bem como alguns familiares próximos, e achar que os outros fariam o mesmo por mim. 
Meu fracasso grita quando eu finalmente consigo abrir os olhos para a situação terrível que me encontro - tanto que minha mãe falou hoje para mim "o que você alcançou até agora? Quais sonhos você realizou'. Poxa! Obrigada mãe, eu sei que nada sou nessa vida, sei que nada faço direito, sei que não sei lidar com sentimentos, com humanos, sei que eu não sei fazer nada, que não sou nada, sei que eu não sou ninguém, eu sei disso! Sei que sou um fiasco, arruinei minha vida, arruinei um relacionamento que tinha muito para dar certo - claro que meu namoro precisava de adaptação de ambas as partes, mas nos encaixávamos enquanto seres humanos (e não falo de sexo). Sei que espero muito da vida, e sei que jamais conseguirei nada disso, mas não precisava me jogar na cara nada disso. Não era necessário, apenas não era necessário. Não preciso de ninguém me lembrando de tudo o que falhei, não preciso de ninguém me lembrando de tudo e todos que afastei ao longo do caminho, não preciso de ninguém me lembrando que perdi minhas oportunidades, que minha vida é isso, mas é isso que acontece, indiretas diárias de como sou diferente, de como minha presença não é desejada, de como só é válido quando tenho algo a oferecer - e é feio querer alguém por perto por interesse. Eu não tenho muito a oferecer, não tenho sou alguém de falhou em tudo, em tudo e com todos.
Sou alguém que precisa de segundas chances, sou uma pessoa insegura, sou uma pessoa frágil, que parece ser forte, mas cujo coração é sensível - para você ter uma ideia, em algum momento de uma viagem que fiz com meu namorado ele comentou 'vamos postar foto juntos?' e meu coração se alegrou igual ao de uma criança no natal, na minha cabeça passou 'de fato ele está gostando de mim, de fato ele quer ficar comigo, ele vai me mostrar para o mundo como a pessoa que está ao lado dele, puxa! como tenho sorte'; e por alguma bobeira a foto não foi postada. Sou uma pessoa com uma alma carente, uma alma insegura, que pediu secamente e friamente para o namorado ficar com ela no carnaval, pois ele queria curtir com os amigos, com ele sóbrio, mas quando ele estava bêbado - e não se lembrou do que aconteceu - ela abriu o coração e pediu gentilmente para ele fazer essa gentileza por ela, e ele aceitou, mas não se lembra; sou uma pessoa que não soube pedir novamente gentilmente e humildemente sobre o carnaval.
Meu fracasso enquanto ser humano é tão grande, que hoje, e ontem, fiquei ouvindo por horas minha mãe falar tanta coisa negativa ao meu respeito, que tudo o que precisava hoje era de um abraço daquele que até ontem era meu namorado, mas que não deveria deixar de ser, só precisava do abraço dele. Não choraria, pois ele não precisa de mais drama meu na vida dele; aliás, sou um fiasco tão grande que ninguém precisaria de mim em sua vida. 
Eu preciso de alguém, que ouça esse momento ruim que está passando, ouça aquilo que tenho para falar - estou falando nessa carta, mas que ninguém a lerá, pois o blog é desconhecido, pois o mundo é virtual, e de nada adianta eu desabafar para o vento, apenas vejo mais claramente o quanto eu erro constantemente. Seria tão bom se conseguisse falar para alguém, para meu namorado, abrir o jogo, falar que a culpa não é dele - temos sim pequenas coisas a resolver, mas são pequenas, e isso acontece em todos os relacionamentos - mas sim que a culpa é minha, que eu não soube lidar com tudo o que tem se passado, que eu acho que sou muito madura, mas que algumas coisas me desestabilizam de uma forma que volto a ter 10 anos mentais.
Sou uma pessoa que tem muito, mas muito amor pra dar, tenho o dobro de carinho e cuidado para oferecer, mas que me perco em meus sentimentos, me perco em gostar tanto da pessoa, em querer ser tudo aquilo que ninguém foi e ser tudo o que ela precisa que me perco e tenho atitudes contrárias, e me deixo levar pelo medo de perder quem está ao meu lado. Sou uma pessoa que precisa de segundas, terceiras e quartas chances, principalmente quando as coisas vão mal com minha mãe, pois fico sem rumo, sem porto-seguro, sem saber como agir, e acho que todos estão contra mim, e acho que nada jamais bastará para ninguém, nada do que eu fizer jamais será bom para outrem. Minha insegurança é tamanha que me comparo com as outras, e sempre me acho pior, sou tão fracassada que preciso, nem que for um pouquinho, de auto afirmação vinda dos outros. 
Mas também sou alguém que tudo fará por ti, se você morar em meu coração, me desdobrarei por ti se sentir que você realmente gosta de mim e que sou importante para ti, só preciso que você ouça meu coração, ajude-me a me sentir segura - e geralmente eu sempre falo aquilo que preciso para que tudo fique bem, seja uma porta fechada do meu quarto, seja uma foto em redes sociais, seja um abraço - apenas por ter pedido um abraço - ou um 'fica comigo'; se eu não falar, não tem como a outra pessoa adivinhar. E o mesmo vale para mim, gosto que falem aquilo que buscam de mim, aquilo que posso fazer para deixar a pessoa bem. E quando alguém faz algo por mim - ou deixa de fazer para estar comigo - eu faço sempre em dobro, mesmo que seja algo que eu nunca fiz, ou algo que nunca faria, mas faço apenas para agradar, para ver a pessoa bem, pois sei que ela gostará daquilo.  
Pois bem,  a carta está ficando comprida e não sei se estou me sentindo melhor, afinal, você é apenas um computador, de que adianta falar isso para você mundo virtual? De que adianta falar para você, que reconheço que agi erroneamente, que me arrependo, que preciso de uma segunda oportunidade, que sou um fracasso, mas que posso me recuperar? De que adianta computador? Diga-me ? Você não pode me ouvir, você não pode ver minha expressão, a dor nos meus olhos, o aperto no meu coração. Não é para você, computador que deveria falar tudo isso, mas é só você que eu tenho. E no fim, talvez seja para ser assim mesmo; estar somente contigo, sem novas oportunidades, pois eu já devo tudo ter arruinado em minha vida. Talvez, somente você ouvirá/lerá todas as minhas cartas, sejam elas para mim mesma, ou para outros, todos os artigos que escrevo.
No final, talvez esteja mesmo sozinha."

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