25 June 2011

Releitura

Nostalgia, eis o sentimento que me consome nesse momento.  Estou ouvindo músicas carregadas de lembranças, músicas que marcaram uma era da minha existência - meio exagerado não? Porém verdadeiro.  Músicas que me lembrar uma época que por mim jamais teria deixado para trás, e que confesso ter uma certa resistência para virar a página dessa época. Com uma certa frequência eu volto a ler esse capítulo do meu livro da vida. Não sei dizer se essa releitura - se assim podemos dizer - é boa ou não. 
Por um lado é muito bom, pois aquela época era boa para mim. Eu me divertia, e vivia de forma leve, apesar dos complexos da minha existência, eu era bem aceita por quem me rodeava, e tudo fluia naturalmente. Não tinham 'contratos sociais' e nem grandes preocupações sociais. Havia um grande respeito com os gostos alheios, e um grande carinho entre nós. A gente se sentia bem um com o outro, independente de tudo. Éramos bem diferentes, porém algo nos unia - e até hoje não sei o que era, só sei que funcionava. E isso era legal! Essa naturalidade entre nós. Minha rotina era bem bobinha, mas para mim era suficiente, acordar, sentir o frio do dia, me trocar, ir até a pracinha e esperar o ônibus, chegar no colégio e ir encontrar meus amigos, quando o sinal batia ir até meu armário e pegar meus  livros, e ficar pensando em milhões de coisas durante as aulas, ir almoçar, conversar com meus amigos debaixo da árvore, morrer de frio enquanto isso, voltar para as aulas, sair da aula, pegar o ônibus e voltar para casa, fazer tarefa e dormir... 
Apesar de tal rotina se parecer com a rotina de muitas pessoas, para mim ela tinha um gostinho especial. Não sei bem explicar... Mentira! Na verdade eu sei sim! O que tornava tudo aquilo mágico era o frio, a beleza do frio, a cultura totalmente diferente, a paisagem, a forma como as casas, prédios, ruas, carros, pessoas... eram! Tudo tão diferente, e tudo tão igual. Tão difícil de lidar, de assimilar, mas tão fácil. 
Era algo que me fascinava a cada dia que passava. Apesar de serem as mesmas coisas todo santo dia.
Porém, reler esse capítulo com tanta frequência não é tão bom assim. Me faz mal, me entristece, acende em mim uma chama que em consome e que não me deixa progredir na vida. Que me mantém presa a um passado que não vai voltar. Por mais que eu queira, por mais que para lá eu volte, não será mais a mesma coisa, todos nós crescemos, e nossa vida seguiu em frente, eu cresci! Agora estou na universidade - e de nada tenho que reclamar da minha vida de universitária - não estou mais no colegial, e nem eles estão mais no colegial. Nossas vidas seguiram em frente, tomaram diferentes rumos, e cada um está construindo sua vida da forma que melhor lhes convem. E aqui estou eu, presa a essa nostalgia, a esse passado que apesar dos seus altos e baixos, foi perfeito na sua integridade. 
Não é fácil se desprender daquilo que lhe faz ou lhe fez bem, parece que se eu deixar ele partir, algo de ruim vai acontecer. Seria como se uma parte de mim deixasse de existir.
E eu me pego pensando 'será mesmo que eu tenho que deixar o vento levar essas memória que eu guardo com tanto esmero dentro de mim?'. I don't think so. 
Creio eu que não, elas são parte de mim, parte do que ajudou a formar quem eu sou. Foi uma época que ajudou o meu amadurecimento - não que hoje, ou até mesmo na época, eu sou/fosse a pessoa mais madura do pedaço - mas ajudou e continua ajudando a formar meu caráter.  E então surge outra pergunta ' qual o motivo/razão/circunstância para eu querer terminar de vez esse capítulo?' 
Essa é uma pergunta que nem eu sei responder direito. As vezes parece que eu estou sendo ingrata ou irracional ou até mesmo infantil por ainda me lembrar daquilo. Parece que eu não sei aproveitar o que acontece de bom comigo no presente, e que eu não sei conciliar o passado e o presente. Que eu não sei ver o que de bom acontece comigo, e fico presa no passado. 
E eu posso até dizer que tenho medo do presente. Medo do que pode acontecer, de as  coisas não correrem bem... sei lá! Ainda não defini direito. Seria como se eu apenas pudesse ter sido feliz - como eu fui naquela época, com aquele gostinho mágico - uma vez, e nada mais. Contudo, cada fase com sua felicidade, certo?!

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