20 March 2017

Entregar

       B0m dia caros e caras, como vão todos?

       Vocês já sentiram medo? Eu sinto, diariamente. Tenho bastante medo, e isso não é legal, é aterrorizante, paralisante. É terrível! Eu deixo de fazer coisas, de dizer coisas, tento reprimir sentimentos por causa do medo. Às vezes eu nem sei direito qual o motivo de ter medo de determinada situação  - principalmente quando se trata de relacionamentos, mas ainda assim me deixo aterrorizar por meus próprios pensamentos, em sua maioria infundados. Vocês não tem ideia de como é ruim você ter medo, seu coração dispara, você começa a pensar muito rápido, e ao mesmo tempo você está paralisada, o ar parece não entrar nos pulmões, seu corpo parece feito de chumbo e em uma fração de segundo você tem que agir como se tudo estivesse bem. Claro que essa sensação não é constante, são momentos específicos - como entrar pela primeira vez em uma sala de aula, com uma turma nova para lecionar, porém assim que entro na sala de aula tudo fica bem, é só a caminhada até a porta e depois passa, afinal, ensinar é algo que eu realmente gosto de fazer. Sinto esse medo quando faço algo para alguém comer, e eu entro em semi pânico entre o momento que entrego a embalagem para a pessoa e o momento que vejo a expressão dela ao comer o que fiz, morro de medo de ter ficado ruim e a pessoa não gostar. Isso já aconteceu, e prefiro que a pessoa me diga se não gostou, não ficarei chateada, apenas me esforçarei para melhorar; mas quando a pessoa faz a expressão de que está gostoso o medo some e a alegria toma lugar, e meu mundo se ilumina. 
       O medo só atrapalha minha vida. Só atrapalha! Tento dizer para alguém o que sinto, e não consigo, tento demonstrar sentimento e fico travada. Faz quase um mês que tenho andado com duas cartas que escrevi para uma pessoa, sempre que sei que eu o verei eu coloco a carta na minha bolsa, mas nunca entrego. Sempre penso 'hoje entregarei' mas quando o vejo eu travo, e não consigo entregar, por sentir medo. Medo de ele entender errado, dele não gostar, de estragar as coisas ainda mais, de piorar quando na verdade eu queria ajudar, dele ser grosseiro, de eu não saber me expressar ao entregar a carta, enfim, medo de coisas que provavelmente não acontecerão, mas eu sofro por antecipação por supostas consequências que provavelmente não acontecerão - afinal acho que ele não leria as cartas, e acho que isso seria ainda pior. Eu comentei com ele que havia escrito as cartas, mas acho que ele nem se lembra, e todas as vezes as cartas estão na minha bolsa. Por incrível que pareça nenhuma das cartas são 'cartas de amor', acho que nunca fiz uma carta expressando todo meu sentimento por alguém e eu deveria fazer isso um dia, creio que será uma excelente experiência; mas sim cartas sobre sentimento, eu escrevo melhor do que falo. Poderia até ler as cartas para ele, seria uma excelente opção, afinal eu sei qual foi o tom de voz com o qual eu escrevi tais cartas. Acredito que se essas cartas fossem lidas muita coisa boa poderia sair disso, mas talvez eu jamais saberei de fato. Pensando racionalmente, só coisas boas podem resultar da entrega da carta, mas o medo é irracional e ele paralisa. Não tenho medo dele, espero que isso não tenha passado pela cabeça de ninguém, o sorriso dele é uma das coisas que mais me dão calma nesse mundo! O que me dá medo é o futuro, o que sairá dessa entrega, e é algo irracional. 
       Você deve estar pensando 'corram pras montanhas, essa menina é surtada e não tem mais jeito', na verdade jeito tenho sim, surtada/o, acho que todos o somos em algum momento ou outro. Meu medo passa, é igual a insegurança, e tem um fundamento. E para ele passar eu precisaria em primeiro lugar falar para as pessoas ao meu redor 'olha, estou com medo, sinto isso, penso aquilo e acho que vai acontecer x coisa, e você pode me ajudar, e seria bom se você pudesse fazer isso, ou algo assim, da sua forma, mas isso me ajudaria muito', segundo esperar que a pessoa me ajude - o que é tão difícil quanto. Às vezes as pessoas podem achar que a ajuda é algo absurdo, quando não é, muitas vezes é só uma frase, me dizer que vai ficar tudo bem, que é só coisa da minha cabeça, me abraçar e sorrir, algumas poucas vezes precisarei de algo mais concreto, mas isso é raro. Inúmeras vezes já liguei pra minha melhor amiga, S, e disse que estava com medo, com receio e afins, e pedi pra ela me dizer que tudo ia ficar bem. Infinitas vezes já pedi para minha mãe, e até mesmo pra
S me mandar mensagem de áudio via whatsapp falando que ia dar tudo certo, ou falando qualquer besteira pois a voz delas me acalma. Esse apoio é bom.

       O medo não é constante, não mesmo, são situações específicas, alguns pequenos segundos, mas que são o suficiente para mudar a batida do meu coração. E em todas essas situações tem como alguém me dar segurança, seja sorrindo, me abraçando, segurando na minha mão, me dizendo que tudo vai ficar ou alguma outra coisa parecida e por aí vai. Tenho falado bastante sobre isso, mas sei que a chave para que isso não aconteça mais, ou diminua de forma significativa - e o mesmo vale para a insegurança - é a conversa, é a partilha, é chegar no outro e dizer 'olha, acontece assim, você pode me ajudar ? muito me ajudaria se você fizesse/agisse assim' - claro que não de forma tão direta, sempre com um jeitinho bonitinho. Eu sei que eu faria isso se alguém me pedisse ajuda, aliás, uma vez falei para uma pessoa que sempre estou disponível para ajudar, e que tudo o que alguém fizer por mim/para mim ou para me ajudar eu retribuiria em dobro e muito mais. Esse é meu jeito de ser, e eu não consigo evitar. 
       O triste é que muitas vezes as pessoas não estão dispostas a ajudar, a se entregar e a aceitar a entrega do outro. Sei que cada um tem seu tempo, e isso tem se tornado cada vez mais claro para mim com o passar dos dias. Eu tenho meu tempo para ver meus erros, e entender e processar meu sentimento por outro alguém, tenho meu tempo para me abrir, para pedir ajuda, para me declarar e me entregar de corpo e alma (e a entrega aumenta com o passar do tempo, pois o sentimento aumenta também), os outros tem seu tempo de amadurecimento, de percepção do quanto gosta, de reflexão etc. Só não podemos achar que o outro, ou que nós mesmos, esperaremos para sempre alguém, por mais que amemos essa pessoa, por mais que lutemos com todo o nosso coração para aguentar o sentimento e tentar transparecer que está tudo bem, em algum momento cansaremos de batalhar sozinhos, de querer algo que talvez não virá, cansaremos de nos apegar a esperanças que muitas vezes somos nós mesmos que a criamos. E isso é bonito de certa forma, é o sentimento que está em nós, é a vontade de estar com alguém que supera nossa razão, e o esperar e o esperançar que essa pessoa também queira estar conosco, torcer para que ela veja a vontade de tudo fazer novo, de corrigir erros, de cometer novos erros, de ambos se ajudarem e entender que tudo fica melhor quando temos uma pessoa que gosta de nós apesar dos nossos defeitos e quer permanecer ao nosso lado, mesmo com todo o medo, queremos estar com essa pessoa. 
       O medo existe, ele é real, mas a esperança também. E entre um sentimento ruim, e um bom... bem, aquele que é bom vence, sempre vencerá! E fica mais fácil, fica melhor quando temos alguém com quem contar, quando isso acontece ele vai embora rapidinho e nunca mais volta.

No comments: